Retrospectiva 2023: primeiro ano após uma vida nômade

Laís Lara Vacco
12 min readDec 31, 2023

Se tem uma palavra que descreveria o início de 2023 ela seria: incerteza.

O ano começou e eu querendo voltar ao mercado de trabalho depois um período sabático que tirei quando tive uma extrema exaustão (burnout) em 2022.

2023 foi o ano que pela primeira vez na vida tive um imóvel em meu nome, junto com meu parceiro Cali (Renato Caliari). E esse mesmo imóvel teve sérios problemas de infiltração logo na primeira semana. Tivemos que rebolar com a imobiliária que nos vendeu. E eu, que não me considerava uma boa cuidadora de plantas, decidi ter várias delas em casa. Fiquei com receio de matar todas.

E mesmo com esse começo, o ano terminou de outra forma. E escolhi outra palavra para descrevê-lo. Mas vamos por partes…

Praia de Florianópolis — Santa Catarina — Brasil

2022 foi meu ano completamente nômade. Sem uma casa fixa, viajei do Espírito Santo ao Rio Grande do Sul de carro com meu parceiro. Depois ficamos um mês na Argentina e encerramos o ano em Florianópolis.

Desde então seguimos na mesma cidade em nossa primeira moradia fixa. Já contei um pouco sobre isso na minha primeira retrospectiva públicaque escrevi toda em inglês por ser o idioma que eu falava no trabalho e quis seguir praticando.

Refletir, escrever e publicar essas retrospectivas tem me ajudado a me manter mais comprometida comigo e a sair do modo automático da vida. Com tantas incertezas logo no início do ano, busquei ser mais intencional. Driblando aquela sensação de 'o ano passou voando' como justificativa para não fazer o que eu desejava.

Um novo experimento: atenção em 5 áreas da vida

Logo no início do ano experimentei uma abordagem mais estruturada para tentar manter a atenção em áreas da vida que considero importantes:

  • Saúde mental e corporal
  • Amizades e Família
  • Aprendizados e Criatividade
  • Trabalho e Finanças

Me inspirei no Year in Review da Ness Labs e adaptei.

Defini atividades relacionadas a cada uma dessas áreas. A ideia é que elas se tornassem práticas ou rotinas.

Dessa forma, não dependo de objetivos ou metas, e sim de atividades intencionais, contínuas e duradouras para me inclinar na direção que desejo.

Como minha memória é péssima e tendo a subestimar o tempo que levo para fazer as coisas, coloquei lembretes diários e mensais para me lembrar de várias dessas atividades.

Mensalmente fazia 'check-ins' comigo mesma. Parando para refletir e escrever onde eu estava seguindo na direção que me propus no início e onde eu poderia melhorar ou adaptar conforme o novo contexto.

Abaixo compartilho um pouco sobre minhas reflexões de cada área. Mas em vez de listas detalhadas, farei um resumo dos principais pontos.

Saúde mental e corporal

Há alguns anos venho mantendo hábitos que me ajudam nessa área. Dentre eles estão acordar às 4:15 da manhã, primeiro banho do dia é gelado, caminhadas diárias matinais de 2km, exercícios de respiração e alongamento ao acordar, exercícios de força e mergulhos no mar (enquanto morei perto da praia).

Coloquei como prática para esse ano caminhar ao menos 6 km no fim de semana, e foi algo mantivemos por um período. Até que compramos bicicletas e passamos a pedalar mais nos finais de semana. Um dia pedalamos ~30 km. E seguimos acrescentando mais passeios de bicicleta diariamente, sem um número ideal. Essas são atividades que me energizam e tem sido mais fácil mantê-las.

Da esquerda para a direita: eu e o Cali (Renato Caliari) caminhando na praia; Cali empurrando a bicicleta em uma passagem de madeira; Captura de tela do aplicativo Relive do dia que andamos 31 km de bicicleta.

Em relação à alimentação, desde 2017 me alimento com a alimentação integral baseada em plantas (que é um pouco mais pra lá do veganismo, pois excluir óleo, refinados e o mínimo de industrializados). E desde 2022 tenho feito jejum intermitente diário de 16h à 18h. Ambos têm funcionado bem pra mim.

Alguns alimentos que fizeram parte do meu ano: rúcula, repolho, soja, manga, banana, pêssego, couve em folha, brócolis, pão integral, batata em conserva, creme de beterraba, lentilha germinada e sorvetes de banana com pasta de amendoim.

Esse ano resolvi adicionar um desafio pessoal que iniciei ano passado. Inspirada no meu parceiro:parei de adicionar sal à comida. Nem uma pitada.

Cortar o açúcar até que foi mais fácil do que eu esperava, já que as frutas assumiram bem esse papel. Mas o sal, eu tive dificuldade em encontrar algo natural que realçasse o sabor da comida como o sal.

Cresci acostumada com comidas salgadas, talvez mais do que a média, já que lembro de amigas dizendo que minha comida era salgada. Então quando parei, senti que elas não tinham mais sabor.

Flertei várias vezes em voltar a colocar sal e me questionei se esse experimento fazia sentido. Especialmente quando se tratava de sopas e cremes de legumes (de abóbora ou mandioquinha, por exemplo).

A comida perdeu a graça.

Até que descobri um truque que funcionou bem para mim. Adicionei vinagre (que eu já adorava), limão e outros temperos naturais sem sal ou industrializados. Por fim, parei de flertar com o sal na comida e encontrei os realçadores naturais que eu procurava.

Curiosamente, nos momentos de exceção onde comíamos fora de casa, uma comida simples (que muita gente poderia considerar comum ou até sem sabor), já se tornava um prato muito saboroso para nós. Uma explosão de sabores. (Isso quando não achamos elas salgadas demais).

Até que lá em novembro resolvi fazer pela primeira vez um prato fermentado, o kimchi. Porém, vai sal no preparo.

Fermentações de kimchi e chucrute com repolho roxo e branco.

Desde que comecei com as aveias fermentadas, e que mantenho até hoje, fiquei encantada com o processo de fermentação de comidas. Então achei que seria justo abrir exceção e adicionar sal nesta comida.

Mas em vez de repetir o kimchi, resolvi experimentar o chucrute e foi o prato que segui fazendo até o final deste ano.

No geral, sinto que todas essas práticas e hábitos têm me ajudado em relação a saúde mental, além de me exercitar fisicamente.

Mas como ano passado experienciei o que parecia ser um esgotamento extremo (burnout), adicionei também a prática de aterramento que aprendi no livro A Liberated Mind: How to Pivot Toward What Matters. Esse livro fala sobre a Terapia de Aceitação e Compromisso (do inglês Acceptance and Commitment Therapy — ACT).

Ilustração que fiz sobre a prática de aterramento.

Percebi que até pra fazer essa prática precisei de mais do que a minha boa intenção. Mesmo desejando fazê-la, não conseguia manter no dia a dia pois simplesmente não lembrava. Precisei colocar um lembrete diário. E ainda 'gamifiquei' a tarefa adicionando ela como 'checkbox' na minha ferramenta de gerenciamento de tarefas.

Adoro a sensação de dar 'check' ✔️ nas tarefas.

O mais legal dessa prática é que me pego curiosa sobre algo do momento que até então eu nem havia percebido.

Logo penso no design da vida, em que para identificar o que funciona ou não, é preciso primeiro perceber. Notar. E às vezes só isso basta para tornar a vida mais interessante.

Amizades e Família

Nós moramos mais isolados e não temos carro, então passamos a maior parte do tempo a sós — só eu e o meu parceiro. Nós apreciamos isso, já que ambos nos sentimos drenados em situações de muito estímulo.

Mas às vezes também sentimos falta de ter uma rede mais próxima. Foi até por isso que ano passado iniciamos a vida nômade. Queríamos morar em campings. A proposta era justamente estar em ambientes que favorecessem a conexão com pessoas que apreciam um estilo de vida mais simples e fora de casa. Mas isso não deu certo.

E pelo isolamento que essa nossa moradia parecia trazer, logo no início do ano me propus a visitar alguma comunidade aqui da região. Pensei que seria uma forma de encontrarmos essa rede por aqui.

Até experimentamos um dia de canoagem havaiana e foi delicioso ver o sol nascendo no mar e sentir a união daquele grupo.

Minha cunha Roberta, eu e o Cali no dia da canoa havaiana.

Isso foi mais uma experiência isolada, incentivada pela minha cunhada que estava aqui e já faz parte de um grupo desses onde ela mora. Mas na prática, esse é um esporte que não pretendemos adicionar na rotina no momento.

Conforme os dias foram passando, tivemos bastante visitas. E não senti que estávamos isolados, mas sim próximos de quem amamos por momentos que permitiram uma conexão mais significativa. E por estarmos criando uma rotina na cidade nova, intencionalmente buscamos conversar e conhecer mais do moradores locais. Essas conexões foram diferentes das que senti durante a vida nômade e do que eu esperava para esse ano.

Pessoas importantes para mim e que recebemos em casa ao longo desse ano. ❤

Também consegui manter uma frequência maior de vídeo-chamadas com duas amigas de outros países, o que sou imensamente grata.

Aprendizados e Criatividade

Minha intenção era escrever mais esse ano. Não só escrever mas publicar também. E eu queria desenhar mais digitalmente e também aprender a cuidar das plantas que pegamos logo no final de 2022.

Consegui postar dois artigos por mês no Medium até o meio do ano. Depois comecei a publicar duas vezes por semana no LinkedIn.

Captura de algumas publicações que fiz no LinkedIn no período que segui publicando duas vezes na semana.

Embora as publicações tenham gerado um retorno positivo da comunidade e uma visibilidade maior do que eu esperava, o LinkedIn é uma rede que me gera ansiedade e sinto que tem me agregado pouco, ou quase nada, no dia a dia. Então comecei a me questionar se fazia sentido mantê-las.

Foi então que parei de publicar por lá e passei a escrever cada vez menos. Eu havia me comprometido a escrever por pelo menos 15 minutos por dia, mas acabei abandonando essa prática.

Essa é uma rotina que quero melhorar nos próximos dias e tentar manter ano que vem, mesmo que eu não publique nada.

Outra coisa que me propus a fazer esse ano era voltar a contribuir mais com a comunidade de design. Então minhas publicações tinha mais esse foco. Acabei até publicando alguns modelos/templates no meu perfil da comunidade do Figma.

Dados da última semana do mês de dezembro de 2023 das minhas publicações na comunidade do Figma

Sobre os desenhos, descobri um aplicativo chamado Lake que é tipo um livro digital de colorir. Como UX/UI Designer, observei os detalhes da experiência e fiquei encantada. Cada som e micro animação me chamavam atenção a ponto deu ficar imaginando a equipe responsável por pensar naqueles detalhes.

Além de relaxar enquanto pintava, essa prática me tirava o ‘peso’ da tela em branco que surge ao criar qualquer arte.

E também serviu como um diário de emoções, já que existe uma função do app de sugerir artes e paleta de cores baseada nas emoções que eu reportava.

Mantive essa prática por um tempo, até que criei coragem para desenhar livremente. Voltei para o Instagram publicando diariamente por uns 2 meses seguidos. Novamente o comprometimento público me ajudou a me manter mais comprometida.

Algumas publicações do meu perfil do Instagram

Sigo animada com os desenhos, mas preciso revisar melhor essa rotina. Como não é algo que me gera retorno financeiro, acabo priorizando outras atividades, como os trabalhos de freelancer que pego de vez em quando de criação de websites.

E sobre criação de sites, esse ano fiquei contente ao me tornar parte do time de 'Experts' da ferramenta Ycode. Uma ferramenta que testei logo que eles começaram o produto e tenho admiração pelo time.

Captura de tela do meu perfil como Expert do Ycode

Já as plantas seguem firme e fortes. Confesso que algumas (poucas) morreram no caminho por motivos de: muita água, pouca água, falta de adubo e talvez nada disso. Sigo aprendendo.

Os livros e vídeos da Carol Costa me ajudaram nesse processo e tenho conseguido manter uma rotina de cuidados que também serve como minha prática de atenção diária.

Antes e depois de algumas plantas que mantive ao longo do ano. E a última foto é do dia que troquei a zamioculca de vaso. Registrei as batatas que se escondem em suas raízes.

Trabalho e Finanças

O ano começou e eu estava determinada a voltar para o mercado de trabalho, depois de um sabático necessário e de tentativas de projetos pessoais iniciados em 2022.

Entrei em uma sequência de atualização de portfólio, reflexões do que eu queria em uma próxima empresa, aplicações e cursos (como o curso gratuito de front-end na Scrimba).

Senti o mercado de UX/UI design diferente dos anos anteriores, em que eu recebia propostas de trabalho sem mesmo estar procurando. Nesse ano, apliquei pelo LinkedIn e na maior parte dos casos, não tive sequer um retorno das empresas. Isso me deixou ansiosa e também frustrada com o processo.

Entre março e abril surgiu uma oportunidade e, pela primeira vez desde que migrei para esse mercado, foi por indicação de uma amiga querida. Comecei em uma empresa que atendeu quase todos meus critérios, tais como: ser 100% remota e me permitir trabalhar 4x na semana. Digo quase todos, pois era um mercado que nunca pensei em atuar: o setor jurídico. E também resolvi abrir mão de um salário mais competitivo, priorizando outros benefícios que enxerguei nessa oportunidade.

A proposta da empresa, a Arbitralis, me animou tanto pela missão da empresa quanto pelo desafio que eu assumiria como Product Designer. Comecei a quebrar o preconceito que eu tinha em relação a esse setor e passei a estudar mais sobre o assunto. Acabei publicando este artigo.

Na primeira foto: eu e a Patrícia (que também trabalha na Arbitralis) no Future Law Experience. Segunda foto: eu e as advogadas que conheci e me conectei no evento.

Sigo atuando novamente como Product Designer e também como Product Manager — algo que eu havia dito não ter mais interesse. Mas como o contexto de vida e da empresa são outros, tenho gostado de assumir esse papel.

Trabalhar 4x na semana em um ritmo que tem funcionado pra mim, me permitiu até pegar trabalhos de freelancer de criação de websites. Algo também gosto de fazer.

Descobri também que dar mentorias é algo que me energiza. Fiz isso por 3 meses seguidos com resultados que me animaram. E reconheço que dei sorte com minha mentorada que foi muito aberta, simpática e demonstrava interesse em nossos encontros.

Conclusão

Acredito que as duas áreas, 'Trabalho e finanças' e 'Saúde mental/física', foram as que mais consegui me manter engajada e consistente ao longo do ano. Talvez como resultado da intenção e práticas que coloquei, como reflexo do ano mais agitado de 2022.

Diferente do início de 2023, em que a palavra que descrevia o ano era 'incerteza', a palavra agora, olhando para trás passou a ser: suficiente.

Suficiente é dinâmico, relativo a um contexto. E é uma palavra que surgiu inspirada no conceito sueco 'lagom': “o suficiente” ou “nem muito, nem pouco”.

E assim encerro esse ano: grata pelos aprendizados, parceria com o Cali (Renato Caliari), amizades que cultivei, familiares visitei e que nos visitaram, oportunidades que abracei e aquelas que percebi que posso melhorar.

Seres e momentos que guardo com carinho e que me afetaram positivamente esse ano. Obrigada ❤

🌟 Favoritos do ano

Geralmente não tenho favorito para nada, já que as coisas me parecem relativas e contextuais.

Mesmo assim, resolvi fazer essa lista e já adianto: ela é válida para este ano — talvez para o dia dessa publicação.

Gostei dessa prática, pois só de pensar em escolher favoritos e priorizar as listas que vim mantendo ao logo do ano, revivi momentos e me diverti no processo.

Top 3 livros de ficção e não ficção

Passei anos sem ler livros de ficção, por falta de interesse e receio de não estar usando meu tempo de "forma produtiva", como com livros de estudos (mais uma opinião que mudei ao longo do ano).

Esse ano resolvi mudar isso e comecei no mundo da ficção. Descobri livros que me deixaram tão engajada que eu mal consegui relaxar para dormir. Os livros da CoHo foram um desses.

Captura de tela do meu perfil no Goodreads. Tradução do título: meu ano em livros.

Dentre os 38 livros que li esse ano, esses foram os top 3 de ficção e não ficção.

Top 3 livros de ficção

Top 3 livros de não ficção

*Confesso que me questiono se 'Memoir' entram em ficção ou não, já que a memória não é confiável e a história tem somente uma perspectiva.

Top 3 séries

Top 3 filmes

Top 3 apps ou extensões

Top 3 citações

  • "Experiência não é o que acontece com você. É o que você faz com aquilo que acontece com você." — Rick Warren.
  • "Pouco a pouco o pouco se torna muito." — Provérbio Tanzaniano.
  • "Sem atenção, não há cuidado" — Alex Castro no livro Atenção.
Citações que ilustrei e publiquei no Instagram.

Obrigada por me acompanhar e por ler até aqui. :)

Que 2024 seja um ano cheio de aprendizados e de contentamento.

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